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Nascida na cidade de Cerro Largo no Rio Grande do Sul, Rosaura de Fatima Berni Couto, 51 anos, é bancária aposentada e facilitadora de biodanza. Suas atividades como voluntária começaram no ano de 2000, em Porto Alegre, quando recebeu a visita do Laurêncio (naquele tempo Coordenador da Moradia e Cidadania/RS, hoje Conselheiro Fiscal) que pacientemente garimpava adeptos nas agências, na época ela prestava serviços como voluntária na diretoria cultural da APCEF. Mais tarde, fez parte de um comitê como responsável também pelos projetos que diziam respeito à cultura, e desde março de 2009, é coordenadora da Moradia e Cidadania em Santa Catarina.
Leia a entrevista que o Portal da Moradia e Cidadania fez com ela.
Moradia e Cidadania: Relate um pouco da sua trajetória na causa social.
Rosaura: A Ação Social é estar inserido dentro da própria realidade. A partir daí perceber o seu entorno e, dentro da percepção de cada um, agir para que este meio amadureça, apodere-se de sua identidade intrínseca e crie as melhores oportunidades de crescimento e desenvolvimento social.
Em todas as cidades que vivi, busquei contribuir de alguma forma com a melhoria de vida da população socialmente excluída, por assim dizer. Normalmente aliada a algum grupo das igrejas, como: apoio a tratamento de drogadição, criar hortas comunitárias, grupos de apoio a adolescentes, formação de opinião junto a comunidade (por muitos anos fui também empresária e, patrocinava eventos ligados a cultura popular, proporcionando principalmente aos adolescentes a descoberta e vivência de sua própria cultura). Apoiei e fui uma das pessoas a reconstruir uma escola cenecista na cidade de São Jerônimo, Rio Grande do Sul. De qualquer modo sempre gostei muito de gente. Sou oriunda dessas “classes menos favorecidas” e sei o quanto é importante uma oportunidade.
Moradia e Cidadania: O que te motiva a continuar com o trabalho social?
Rosaura: O brilho no olhar das pessoas, quando percebem que podem ser elas mesmas. Quando elas percebem a autonomia, quando percebem seu valor, isto me motiva.
Moradia e Cidadania: Como você, voluntária, avalia o trabalho da Moradia e Cidadania?
Rosaura: É fundamental para quem consegue ser tocado pelas iniciativas que apoiamos.Sempre que lidamos com pessoas, vai haver cem por cento de aproveitamento mesmo se somente uma conseguir ser autônoma, melhorar sua auto-estima, puder prover sua sustentabilidade e das pessoas pelas quais é responsável.
Moradia e Cidadania: Na sua opinião, falta alguma coisa para que o trabalho que você desenvolve na Moradia e Cidadania seja ainda melhor?
Rosaura: Penso que estamos em um momento de profissionalização, isto se mostra cada vez mais importante para a melhoria dos serviços que prestamos. Que nos capacitemos sempre e que as ações que desenvolvemos sejam sempre locais. A grande dificuldade de um País como o nosso, com toda esta extensão é poder servir a cada canto por mais escondido que seja com a mesma qualidade dos lugares que estão mais em evidência. Perceber que a miséria existe em todos os lugares, porque quando falamos em miséria, hoje, já não é somente a fome, mas a falta de afeto e empatia que destrói nossas crianças, nossos jovens, que, sem perspectiva, aderem as fugas da realidade através das drogas.
Moradia e Cidadania: Qual a importância de desenvolver projetos sociais em comunidades de baixa renda?
Rosaura: Aumenta muito o número de oportunidades que as pessoas tem acesso.
Moradia e Cidadania: O que mudou na sua vida e na vida das pessoas de baixa renda que são atendidas?
Rosaura: Não é só na vida do “atendido” que as coisas melhoram. Porque ao fim e ao cabo todos estão sendo “atendidos” em sua demanda. O Voluntário porque está praticando uma ação que traz o que de melhor existe para a harmonia e paz: a gratidão. Eu aprendo cada vez mais a escutar (meu grande desafio) porque se não há escuta, não há interação, não há confiança dos participantes.
Moradia e Cidadania: Qual é a coisa de maior valor que você aprendeu com o trabalho voluntário?
Rosaura: O que eu aprendo cada dia? A otimizar recursos, articular, conversar, a me colocar presente em cada ato, em cada telefonema que recebo, em cada contato que faço, quanto mais sou eu mesma, mais os parceiros acreditam na proposta, mais adesões temos para manter o serviço.
Moradia e Cidadania: Qual é a mensagem que você gostaria de transmitir às pessoas que têm vontade de ajudar as pessoas de baixa renda?
Rosaura: Que na verdade na ONG Moradia e Cidadania, não estamos “ajudando” ninguém quando nos propomos a um serviço como esse, estamos AJUDANDO-NOS a sermos mais receptivos, aumentar também nossas oportunidades de servir. Costumo dizer que agradeço por amar fazer um serviço que pode trazer alegria, estima elevada e autonomia para as pessoas que participam dos projetos.
Moradia e Cidadania: Quais seus projetos para o futuro?
Rosaura: Aperfeiçoar-me sempre no trato com a realidade diária, desenvolver aspectos como a diplomacia, o afeto positivo, empatia e compaixão. Aproveitar cada oportunidade para o desenvolvimento do serviço a cada dia, da maneira como se apresenta. Porque de verdade, o futuro é exatamente agora.
Moradia e Cidadania: Para você, qual a importância da inserção dos empregados da CAIXA nas ações da ONG?
Rosaura: Toda a importância. Toda. A ONG foi criada e é mantida pelos empregados. É fundamental que continue a ser gerida por esta gente muito especial, que já vive num ambiente empresa fundamental para o desenvolvimento dos cidadãos deste País. A Moradia e Cidadania, em muitos casos, aqui em Santa Catarina por exemplo, atua em muitas instituições/iniciativas que já existiam formatadas e conduzidas por empregados/Caixa.
Moradia e Cidadania: Relembre um fato marcante na sua trajetória social e o que mudou em sua vida após o acontecimento.
Rosaura: Isto é complicado, porque sou muito encantada com a vida, por isto estou sempre revendo “meus conceitos”, mas vou contar algo que aconteceu recentemente quando perguntei a um senhor em Tubarão/SC de mais ou menos 50, 55 anos de idade, o que significava para ele participar do projeto Mãos a Obra que estamos desenvolvendo com várias parcerias naquela cidade, para aprender o ofício de pedreiro. Chamou-me a atenção porque era um sábado muito frio, o que é raro na região e percebi que para alguns faltava um abrigo condizente, mas sobrava a disposição de estar ali. Este senhor me respondeu:” Esperança, Dona, Esperança.” Isto não mudou a minha vida, mas seguramente aproximou-me ainda mais destas gentes que eu chamo de povo,e, que de verdade sou eu mesma.