Associada recebe prêmio no Concurso Crônica FENAE 2008
A associada Luciane Madrid Cesar venceu em 3º lugar o Concurso Crônica FENAE 2008, com a obra intitulada Trabalho Escolar.
A Luciane Madrid faz parte do Comitê da Moradia e Cidadania de Varginha em Minas Gerais e atua em diversos projetos sociais desenvolvidos pela ONG.
Parabéns, Luciane!
Confira, abaixo, a Crônica de Luciane Madrid:
TRABALHO ESCOLAR
Ana Lúcia Aguiar
– Ai, meu Deus!! Desse jeito não dá – era minha filha nervosa frente ao computador. –Essa internet é muito lenta… Vou levar um século para terminar meu trabalho de história!
Suas palavras imediatamente me levaram à minha infância. Cheguei a sentir o gosto da jujuba dividida na volta da escola. Chegava em casa com o rosto afogueado, deixava o material no sofá, almoçava correndo e logo já estava na rua novamente. De caderno e caneta em punho e no bolso, o dinheiro para o ônibus, lá ía eu rumo a biblioteca municipal. A condução me deixava a seis quarteirões de meu destino. Estes eram vencidos a pé, sob sol causticante.
Na grande sala de entrada, imponente, por trás de uma mesa à um canto, sentava-se a bibliotecária. Mulher séria e compenetrada, logo exibia um sorriso ao ver estudantes se aproximarem. -O que você está precisando? – perguntava amável. Eu informava a ela o tema de minha pesquisa e num instante ela estava me mostrando em qual estante de qual corredor eu deveria procurar. Algumas vezes ela mesma localizava os livros e me entregava para a pesquisa. Com certeza foi nessa bondosa mulher que sites como o Google se inspiraram… Sentada junto a uma das enormes mesas, pilha de livros ao lado, eu ía abrindo um a um, verificando onde poderia encontrar as palavras que me seriam úteis. Encontradas, transcrevia para meu caderno os trechos literais, para juntá-los depois num só texto. Levava nisso a tarde toda. No caminho para casa, entrava em uma papelaria para comprar as inevitáveis folhas de papel almaço. Para quem não sabe, eram folhas duplas, pautadas, com uma margem vermelha do lado esquerdo. Pareciam as folhas do meio de um caderno brochura grande. Aliás, quem usava este tipo de caderno podia ir arrancando a folha do meio para usar como papel almaço. Mas isso só no início do ano, enquanto a cópia das lições e exercícios não tivessem alcançado o meio do caderno. Na hora de comprar a folha, a quantidade é que era o problema: precisava-se calcular o texto pronto, as gravuras, a capa… E a gente tentava fazer uma letra maiorzinha para que o trabalho parecesse mais extenso. Era melhor levar logo cinco folhas. Se sobrasse, ficava para o próximo.
Chegando em casa no fim da tarde, banho, janta e novamente punha a caneta para trabalhar. Dessa vez para passar a limpo os textos copiados na biblioteca. Réguas e canetas coloridas faziam caprichosamente a capa, que continha o tema da pesquisa em letras bordadas e, mais embaixo, nome, número e série do autor do trabalho. No interior o texto, caprichosamente copiado ( com a letra ligeiramente maior, lembra-se?). Gravuras retiradas de revistas velhas ilustravam o conteúdo e podiam garantir uma nota melhor. Na hora de colar, muito cuidado para não passar cola demais e borrar o texto escrito do outro lado da folha. Mais cuidado ainda para não rasgar o papel. Isso seria um desastre! E pronto. Podia ser entregue ao professor na manhã seguinte.
Estava chegando ao fim de minhas reminiscências quando escutei o barulho da impressora e um aliviado: “Ufa! Até que enfim!” no cômodo ao lado. Minha filha terminara o trabalho. E vejam só: enquanto eu passei meia hora recordando as atividades de um dia inteiro na minha infância ela estava lá, na frente do computador: Primeiro digitou o tema no Google, que lhe mostrou várias opções de sites sobre o assunto. Ela então escolheu um, encontrou um texto que lhe convinha, e algumas gravuras de interesse. Com o mouse, selecionou palavras e figuras, botão direito – copiar, novo documento do Word, botão direito – colar. No WordArt criou uma bela capa colorida com letras bordadas. Numerou páginas, ajeitou formatação e mandou para impressora. Agora é só grampear e entregar para a professora na manhã seguinte.E ela ainda tem o resto da tarde livre.
Minha filha ficou mais estressada na meia hora que passou em frente ao computador, do que eu ficava nas muitas tardes que passava na biblioteca…
Chamam isso de modernidade!